terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Vinte e Poucos Anos (XL) - The Fault in Our Stars

"Eu NÃO GOSTO DE 'BESTSELLERS'"...




Uma das minhas belíssimas frases de distinção. Meu Deus do céu, dá mais vergonha quando leio...

Uma coisa sobre ser homem: se comportar como Shrek é totalmente aceitável (devidas às proporções, é claro!). Mas, na real? É um saco.

Sim! Um saco ter que ser inabalável, defender a virilidade o tempo todo pra tudo, nunca se surpreender - nem se assustar -, não fraquejar (falhar então, nem pensar!), não chorar e por aí vai. É foda difícil vestir aquela capa de invencibilidade porque ela te impede de demonstrar coisas tão importantes (principalmente num relacionamento a dois).

E aí você deixa de compartilhar um lado tão humano e isso faz toda a diferença.


Então... Vamos ao primor que eu disse em um momento recente. "A Culpa é das Estrelas", bestseller de John Green, narra a história de dois adolescentes que encontram a beleza do amor verdadeiro em meio a realidade dolorosa: ter câncer e morrer a qualquer momento.

Uma história de amor e morte como tantas outras a lá Romeu e Julieta, certo? Não. Não, mesmo.
A saga de Razel Grace e Augustus Waters é uma miscelânea de tantas sacadas inteligentes, comédia, drama, romance, tão bem escrita e envolvente que não tem como dizer: "é apenas mais um livro de amor/tragédia".

E quer saber? Eu gostei. Gostei muito! E me emocionei - mesmo. Sou sanguíneo. Minha mãe já me dizia: "Cuidado com  os que tem um sorriso pronto." querendo me avisar que pessoas assim tem os sentimentos à flor da pele.

Mas eu não. Sou homem. Na metade do livro eu já procurava algo que denunciaria o final da história. Sei lá... Talvez pra reafirmar em mim o quanto posso ser inteligente... E sabem? Descobri (e se você não leu/assistiu o filme vou preservar o final porque... Ninguém merece, né? [rs]).

Mesmo percebendo como terminaria ainda no meio do livro, não diminuiu em nada o que a trama me fez sentir. Quantas vezes meus olhos marejaram... E frases como "... Sou uma granada prestes a explodir...", "... Há infinitos maiores do que outros..." e "... Tenho a necessidade de ser lembrado depois que partir...." ou (a minha predileta:) "... Não dá pra escolher se você vai ou não ser ferido nesse mundo, mas é possível escolher quem vai ferí-lo. Eu aceito minhas escolhas...." me acompanham até hoje.

Me identifico muito com o Augustus Waters e quando há simpatia pela personagem, não tem jeito!, você se transportar pra dentro do livro. O modo como ele defende a existência de Deus é exatamente como eu defenderia e a maneira como utiliza metáforas... Enfim. O livro é daqueles que te fazem não parar no primeiro capítulo. O devorei em 03 dias.

Ao devolvê-lo soltei a pérola de que apesar de não gostar de bestsellers o livro era muito bom. Olhando pra trás eu penso: que imbecilidade ter dito isso!

Porque não podemos, nós homens, demonstrar admiração por algo que toque o coração e a alma assim como fazem as mulheres? E porque temos que ser tão sóbrios? E me faço estas perguntas sabendo que eu (sem soberba ou prepotência) sou um cara diferente.

Quantas vezes me deparei num diálogo com algo que me parecia novo e vasculhei os recônditos da minha memória... Péra... Recôndito é Freud... "Vasculhei o canto mais obscuro da minha memória" (bem melhor, né?) alguma experiência que poderia ter sobre aquilo?

Caramba, velho! Como seria prazeroso ser surpreendido com o novo (mesmo que não o fosse realmente) e dividir a experiência da descoberta! Aliás, eu curto muito que me ensinem algo novo. Só que sou um pé no saco como aluno (por causa da minha mania de questionar quase tudo [curiosidade do mal]).

E quantos bestsellers eu já li na vida! Li os 07 livros da JK Rowling descrevendo a epopéia do garoto Harry Potter. Li quase todos os livros queridinhos do Dan Brown... Pelo amor de Deus! Li "Querido John" e curti (apesar de ter ficado meio down com o final da história - e com o que estava escrito na contracapa [rs]-[Êêê laiáá])... O primeiro que me recordo (sem contar os da Agatha Christie que minha mãe levava pra casa) foi "Um Ano Inesquecível" (do Nicholas Sparks) que vocês reconhecerão como a adaptação "Um Amor pra Recordar"...

E qual o meu problema em admitir? Sou um tolo. E olha que aprendi a me abrir como nunca nestes últimos anos, mas reconheço o quanto sem graça um cara pode ser.

Mas a imagem é de um DVD... E porque não o livro, se falo dele? Na verdade essa falta de tato shrekiana veio durante uma sessão de cinema. Onde, não sei bem o porquê, não quis deixar vir à tona o que sentia.
Achei incrível como uma história bem contada e roteirizada mexe com tanta gente: todo o cinema chorou - e umas pessoas mais do que outras. Todo o cinema sorriu - e umas pessoas, também, mais do que outras.


Porém, ao invés de me entregar (se é esse o verbo correto), decidi ser o homem; inabalável.
Brincando com pormenores e tirando o conforto de quem queria se mostrar por inteiro - afinal de contas é uma história emocionante. Coibindo com minha sobriedade a livre expressão de quem queria simplesmente se deixar emocionar. É, sou um tolo também!

E o pior? Quando a Razel (Shailene Woodley) cita a carta de despedida... E depois no finzinho do filme, chora de uma maneira única na cama, cara!, senti aquela dor... Cenas tão fortes e tão bem interpretadas que mexem comigo hoje.

Sabe? esse texto-resenha é sobre mim e menos sobre o filme/livro. Autocrítica. Sobre essa nossa falta de coragem em correr o risco de estarmos simplesmente vulneráveis.

Uma coisa que o filme/livro me fez pensar é que... Todos estamos morrendo. Independente de ter ou não câncer. A diferença entre nós e as personagens é que eles sabem que o prazo deles é curto. E nós vivemos como se tivéssemos a vida inteira pela frente. E é engraçado porque nós não temos controle nem do que acontecerá daqui 05 minutos. 



Sei que sem a dificuldade não valorizamos o que possuímos e quando não há o empecilho, nós o criamos para complicar o simples.

Mas certas coisas tem que serem compartilhadas ao máximo - e nós podemos estender os nossos limites (sempre!). Porque senão o que fica é um eterno "e se...".

É tanta cobrança acompanhando a frase "seja homem" e o carinha não se permite admitir até que sente dor física, se analisar bem.

A única cobrança que me resta é o "seja você mesmo".

Porque às vezes, arriscar-se pode ser só deitar a cabeça no colo e deixar o sentimento acontecer.

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