terça-feira, 30 de junho de 2015

Crônicas do Frio (30) - A Exaustão

A Exaustão (O Castelo de Cartas) 2/2

Olhos fechados. O mundo pára. Irrompe toda a torrente de desejos e faz pontos do corpo contraírem involuntariamente... Como que sendo acariciados por eletrochoque. O som do notebook caindo no chão os desperta. Marjorie sentada no colo de Henry quase sem regata e camisa. Ele com os botões da camisa estourados e o peito arranhado. Ambos arfam suplicando ao ar mais vida e embebidos em desejo.

- Marj... Precisamos parar. - Keller tentava recuperar o controle da situação e do corpo.

- Já paramos dem...aa...! - a menina Sunshine pressionava sua pelve contra o colo que dominava e ao sentir a reciprocidade sólida estremeceu e se perdeu em sensações.

Virgem. A garota experimentava prazer que milhares de mulheres morrem sem conhecer.
Balanceado. Henry acorda do devaneio e percebe que precisava fazer algo contra tudo o que desejava.

- Não posso fazer isso com você. - deslizando a moça ainda atordoada em êxtase de cima do seu colo, completa - Tenho o dobro da sua idade. Era uma brincadeira que extrapolou limites. Precisamos parar.

Segundos de silêncio que duram uma eternidade. E ela pronuncia:

- Seus textos nunca mais serão os mesmos. - respirou fundo e... - Você já me possuiu. Intenção é metade de toda ação. Você me jogou no seu livro como sua. Se não for contigo a primeira vez, será com um imbecil qualquer.

Organizou-se. Roupa. Cabelo. Pensou no "foda-se" de mais cedo que era mais para o "vou dar pro Henry" do que para os pais e sentiu uma pontada de arrependimento.

Henry não conseguia pensar a não ser em como aquela menina de dezoito anos recém-completados ficaria depois daquilo. Já mentalizava que deveria parar, mas acabou se deixando levar. Erro de adolescente. Talvez, mesmo quase aos 36 anos, não fosse tão maduro assim.

Ela levantou. Abaixou e pegou o papel amassado no chão e estendeu para o escritor. Ainda engolia oxigênio; parecia exausta.

- O que você quis dizer com "quero o beijo que nunca foi real"?

* * *

Leonard desceu as escadas silenciosamente. Ouvia gemidos e sua mente já horrorizava qualquer pensamento. Ficou no limite da escada onde achava que visualizava tudo e ninguém poderia vê-lo.

Sentiu náuseas inexplicáveis ao ver o amor da sua vida esfregando o corpo contra o do pai. Quase vomitou. As lágrimas jorraram irrepreensivelmente. Tentou correr varias vezes, mas os músculos não obedeciam! Já havia desejado as namoradas do pai em momentos diversos... Mas isso? Nunca o faria! Bem notava a admiração que Marjorie sentia ao ver o Henry. O Henry que dizia "Não precisa falar 'Senhor' ou pai. Sou seu pai, mas seu amigo."
Conseguiu engolir o choro. Engatinhou escada acima. Parou de sentir qualquer coisa. Sentiu uma lassidão. Dirigiu-ao banheiro. Abriu o armário escondido atrás do espelho. Remédios. Não mais remédios. Sono profundo.

* * *

Exaustos. Ed e Su revezam entre eles quem dá pipoca na boca do outro. Casa arrumada. O Pianista rodando no Home Theater.

- Amor. A Marjorie deve estar apaixonada por um homem mais velho. - Susana decide compartilhar sua analise agora que o marido, depois das sessões de sexo, está mais suscetível à compreensão.

- Será? Então... Todo esse comportamento é por isso? (...) Porque ela simplesmente não falou? Somos pais compreensíveis. - Edmond afaga Su enquanto relaxa o corpo aliviado com a noticia; sua confiança na mulher é total.

- Porque nessa idade, meu bem, somos os inimigos. Você sabe. - Ela puxa o marido num beijo e continua - Vamos aproveitar a liberdade que ela quer de nos para sermos livre dela também.

- Depois de dormirmos, né? Depois de dormirmos...

* * *

Henry reconhece a caligrafia do filho prontamente na carta. Salta do sofá e corre escada acima. O estômago mínimo. Imagina o pior. Quarto vazio. Banheiro... LEONAAARD!

* * *

- Oi...
- Oi...
- Pode entrar...

[passa pela janela e adentra o quarto]

- Como está?
- Ainda não morri nesses dois meses, obrigado. - Leonard senta ao lado de Marjorie na cama.
- Vamos assistir Dexter?
- Vamos.
- Estou cansada. Domingo é um dia tão preguiçoso, não é? - ela dá espaço para ele sentar na cama atrás dela e encosta no peito dele, transformando-o num suave-encosto.
Notebook no colo, dá play no Media Player. O vídeo começa.

Ele respira fundo.

Ela:

- Se eu tivesse tesão em você...

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