segunda-feira, 1 de junho de 2015

Crônicas do Frio (Dia 1) - Biografia

BIOGRAFIA - Ensaio (Caligrafia)


Minha caligrafia, única, pessoal...

Remete a quem realmente sou e por vezes reflete minhas tendências literárias, conceitos e personalidade.


O topo das letras sempre fora meio arredondado e fechado...
Como diria depois que comecei meu curso pessoal de design gráfico: “o topo sempre fora em filete”.

A parte que se estende para baixo depois de um tempo ficou curvilínea e circular; rechonchuda por assim dizer (mesmo sem que eu percebesse), apesar de haver aqui e ali sinuosidades que acinturassem-na, ainda lembrava e muito às formosas ninfas que são expressas em famosas pinturas, não pela beleza – ou pelo aspecto artístico –, mas pelo padrão. Aquela representação grega, muito próxima à minha caligrafia, apesar de fugir aos padrões estéticos atuais, é admirada com fascínio por muitos.

Os caracteres que deito sobre os papéis são também os códigos que utilizo para despejar no mundo o meu próprio mundo. As ideias e conceitos, as sensações e as percepções, definições e opiniões, senso de humor.

À primeira vista a impressão que a minha caligrafia causa sempre é positiva.
Por vezes eu ouço: “Que letra bonita!” quando por diversas vezes eu mesmo, perfeccionista que sou, duvido muito na graça que parece envolvê-la.

Algumas vezes os seus arredondamentos transformam-se em ângulos rudes, porém incisivos e objetivos; agressivos e severos, mas bem definidos. E mesmo assim, parece agregar certo charme à escrita.

Os pensamentos e ideias que ela veste e representa também dão ares de admiração assim que conhecidos.

Nesse primeiro momento são classificados como inteligentes, sedutores, peculiares e singulares. É, como no conceito grego, belo. Digno de entusiasmo.

O que surpreende é saber que após um tempo quem observa a caligrafia encontra falhas de criação. E essas insuficiências fazem com que a leitura ao que escrevo seja deliberadamente deixada de lado.

Por sugestão, descubro que o topo deveria ter serifa – com a extremidade quadrada e estendida, ao invés de ser fechado e com filete.

Desse modo, se encaixa num padrão e facilitaria a leitura; tornando-a mais agradável.
A serifa é realmente interessante e adapto ao meu estilo de escrita.

Percebo então, que as circunferências notadas por quem acompanha minhas composições é motivo suficiente para afastar os olhos dos textos em que são inseridas.
Tais círculos atrapalham o senso estético tornando a simples menção à leitura quase repelente.

Não menos estático fiquei ao descobrir que as razões, ideias e ideais que as letras defendem também são contestados e repelidos.

Conceitos não mais valorizados; Sensações ditas como exageradas; Senso de humor desestimado; Conhecimento de mundo desprezado.

E ironicamente, a caligrafia não é mais digna de admiração e fascínio.
Exatamente por ser o que ela foi quando se tornou em admirável e defender o que ela defendeu quando se moldou em fascinante.

Surge então a proposta de readequar a caligrafia para que encontre a estética necessária para seduzir e encantar o olhar... Uma vez mais.
Isso é possível.

Um caderno de caligrafia é uma prisão estética aceitável.

Porque é a estrutura física da letra não é exatamente quem nós somos.
Pouco importa (apesar de exteriorizar como expressão) a forma com que a caligrafia é derramada numa folha de papel.

Mas modificar o que minha escrita defende para ser atraente é trair meus próprios princípios; É hipocrisia.
Isso é impossível.


Uma lavagem intelectual e social é uma prisão inaceitável. 

Porque as palavras que as letras constroem são a transcrição da alma e a essência não muda para se adequar à estética.


#PHpoemaday

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