segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (14) - O Ipê

Suspiros


Tenho que ser honesta contigo. No começo incomodava, depois ignorei. Achei que fosse um dos três: carente, vazio ou doente. Acontece o tempo todo. E eu estou cansada disso. Perco meu tempo e paciência; é um estorvo. Os piores são os apaixonados, na minha opinião.

Mas percebi, depois de um tempo a diferença. Eu entendo não querer falar comigo. No entanto, não consigo ficar longe. Sei que não era loucura sua, não era vazio existencialista, paixão adolescente. Depois de anos observando, aprendi a saber o que tu sentes. E agora faz falta aquela admiração, aquele respeito. Posso me sentar no teu leito... Ao teu lado? Não me olhes dessa forma. Ah! Esses castanhos sob a luz...

Sei, pedi que me apavorasse, mas eram outros tempos. Me aceitas na tua casa, como antes. Vês? Tens por mim um sentimento cativo. Vivo – não faça ar de riso – pelos cantos lembrando de tudo. Meu medo era que desistisses, afinal, não me consideravas inimiga. Diga: que mudanças uma única vida pode trazer? Afinal nascestes só e é sozinho que encontrarás teu destino. Tua parte já fora feita. O que mais queres? Eu estou presente, sempre. E espero mais um presente. Daqueles que me fazem chorar as vidas que nunca tive. Daqueles que me fazem amar impossivelmente.

Não és como antes e ignoras-me. Porém, sabes que cá estou. No canto do cômodo, vendo tua fome e sede, teu cansaço e dor... Sabendo que não é pra mim teu sacrifício – amém! –. É vívido teu suplício e eu o testemunho. Óh! Desculpe te tocar... Eu sei, esse frio... É que não suportei teu semblante esguio. Me olhas, dispara, reclama; prefiro. Não vais mesmo, falar? Leio seus pensamentos se quiser, mas quero sua voz.

Me afasto se queres levantar. 
Te acompanho se queres caminhar. 
O belo bosque. Teu lugar de suspirar.

– Vês esta árvore linda, frondosa, colorida... Magnífica, não é? É o ipê. Conheces?

– Que bom ouvir-te novamente. Sim. Mas o que queres dizer?

– Minha filha ainda não conhece metade da beleza que merece... Não espero que entendas, mas aceite o porquê comecei a te temer.

[...]

– A vida nas tuas mãos. Somos iguais então.


#PHPoemaday

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