quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (30) - Um Tema Passado

Signo de Ar


Se me permites a apresentação, eu sou Eu. O prazer é meu, Você. Desculpe a bagunça. Eu sei que tudo aqui é uma confusão. Peço um pouco de paciência, coisa difícil nos dias aonde a onisciência é uma extrema necessidade exigida para ser ignorada – pois, em todos os lugares vemos donos da verdade (e graças dou às exceções) –, para que faça algum sentido atravessar este portão. Difícil entender a minha cognição, não? É. Desejo-te boas-vindas ao olho do furacão. Quando soube que Você queria conhecer o meu universo, não acreditei. Confesso: quando converso sobre quem é Eu, causo espanto e encanto. E é pelos cantos que traços meus pontos, não sou lá fã de ser o centro. Dar atenção é mais meu recanto.

É. Este é o Auto-Retrato. Gosto de me olhar no ontem para entender melhor quem sou.

Não sabe onde ficar, Você? É o caos, é o caos. É mosaico do meu ser. Venha, sente-se aqui. Deixe-me preparar um café. Quando subi para a estação de metrô, foi que vi tudo acontecer, sabe? As cores misturando, pessoas arrastadas por suas coleiras virtuais, senti uma força me sugando para outra dimensão e minha mente já estava em... O quê? Ah, desculpe! Às vezes incinero a largada ou passo o bastão entre uma modalidade e outra – mesmo que a pessoa não tenha testemunhado o início da primeira –. É uma sina.

Sim. É o Cárcere. Mantenho-o perto de mim para saber que a qualquer momento posso errar aonde vou.

Mas, contextualizando, me vi novamente neste fatídico dia no mesmo lugar, no mesmo horário, no mesmo caminho, cercado dos mesmos rostos. Que já me reconheciam (mas não conheciam), que já mediam meus passos, que já aspiravam minha pele, que já pouco me agregavam, que me faziam cada vez mais robotizado. Preciso de mais. E pelas veias multicoloridas desse multiverso subterrâneo, mudei dois tons. É o caos, é o caos. Contei cinco ciclos de minutos para aspirar novos sons. É mosaico do meu ser. Não me repetir faz parte da minha essência. É uma sina. E eu compreendo que no final, a escolha é o mesmo destino. O objetivo não é desatino. Então é eco e o círculo antes aberto, agora jaz fechado. Percebi que é no caminho que evoluímos. É nas facetas do nosso ser em outros mundos – um segundo de diferença e a realidade é completamente diferente –. É, Você. Não sou fã de ser centro, apesar de ser centro de certos cantos. Não tem como fugir das responsabilidades de não ser santo. Se não há ancoradouro? Sempre há! Já não o disse? Perdão. Existem, sim, nossos destinos de salvação.

Isso. O Silêncio. Não consigo entender como viver dentro dele, porque ele inexiste onde estou.

O desespero que me faz não ser um tema passado acaba me reprisando em ser presente em mim. E ter que ser Eu e provar o eu que sou é cansativo para quem me vê. Vejo seus olhos brilharem e amo esse fulgor, Você. Porém, você tem que entender o castanho como a cor mais bela. Tome aqui uma cerveja, brinde comigo! O café? Ah... Verdade, não é? É o caos, é o caos. Que move o que sente, que dá temperatura a canções, que imprime desejos à flor da pele. Estamos nesse exato momento em outro tempo do que começamos. É mosaico do meu ser. Adorei o seu sorriso. Amei esse beijo entregue, profundo. Mesmo, antes. Quando acontecido só na nossa mente. Melhor agora, fora do relicário que a Cássia cantou. Vamos sair. Vem comigo. Deixa eu te mostrar como vejo o mundo.

(cont.)


#PHpoemaday

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