quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Crônicas do Frio II (31) - Dourado e Branco

Signo de Fogo



Oi! Eu sou Você. E já estive no olho do furacão. Não faço ideia se foi a melhor das decisões possíveis, mas tudo me enlevava. E ele me levava. Eu, que não me escondeu nada, permitiu o espaço que ocupava. Eu não nasci Você, aprendi a ser. Então posso escolher quem ser e de que forma. Aceitei e não me culpo... Mentira, sempre me culpava. Lógico era ele quem me puxava pela mão e tudo girava de forma sem precedentes. E eu que nunca me imaginei chover, hoje inundo a vida de tempestades recorrentes.


Hoje, quando escrevo Você e Eu, raízes de energia abundante brotam das folhas do caderno procurando aquele caos... tanto caos. Já imaginando que virá tornar-se fascinante. Era arte, era arte. Assim como me fazia de tela em branco, e me comprimia contra a parede, e me impressionava em aquarela, e umedecia minha textura, e fazia os tons tocarem os céus, e miscigenava em expressionismo, e fazia música das minhas entranhas, e pincelava mais bocas do que eu poderia beijar, e derretia em sustenidos, e fazia o mundo parar e ao mesmo tempo girar, e sussurrava as músicas da libido, e desenhava prazeres na pele, e escorregava meu ponto de fuga, e tocava cada degradê... E no meio de toda aquela mistura, ainda era o castanho que você procurava.

I n c e s s a n t e m e n t e. ~arrepio~

Daquele branco morte, confundido com paz, a flor sempre abria coalescida. Mas a dúvida resistia. Fenômeno de ser Você.

Amanhã, quando o Sol lamber meus olhos alterando os tons, passeando do vermelho ao dourado, me lembrarei mais uma vez daquele mosaico... tão misturado. Lá saboreando cada centímetro do teu tornado esfuziante. Era arte, era arte. E ouvirei tua voz: “permanecer no núcleo de mim irá te proteger de mim, Você”. Mas Eu, eu não acreditava. Fenômeno de ser Você. E eu sei, chorarei... O dia do vendaval, a abdução helicoidal, o choque visceral, a necessidade de ar, a vontade de organizar, o erro em desumanizar, a desproporção na simetria, a imperfeição que eu destruía, o medo de perder meu eu, o desespero em não ter meu Eu, a caricata possessividade, a metódica agressividade, a minha ira na tua compreensão, a tua dor na minha perfeição... E no meio de toda essa clausura, ainda serio o castanho que você procuraria.

A p a i x o n a d a m e n t e. ~calafrio~

Deste dourado paixão, confundido com poder, a flor sempre brotará convalescida. Pela suspeita de uma felicidade vazia. Você é antônimo de Eu, mas ainda existirá a vontade de ser eu e você.


#PHpoemaday

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